segunda-feira, 19 de outubro de 2009

UMA LEITURA DE AZEVICHES

Lembrando Germano Almeida e O Meu Poeta

Que bom que foi ver-te de novo! E mesmo para me chamares de vatel valeu a pena teres vindo. E a propósito que dizes do título que proponho para os Episódios?
Guardava ainda de ti a imagem das calças de ganga e cabelo ao vento quando apareceste na porta com o mesmo sorriso. Reencontrar-te assim foi mais do que alguma vez sonhei no longo deserto onde me deixaste e se o meu corpo não traduziu toda a festa do meu espírito pela tua presença foi só pela fraqueza que ainda tenho de perder as palavras diante de ti e apenas desejar ficar olhando-te, e apenas querer acariciar o teu nariz com os meus dedos. Quanto tempo recuei vendo-te ali? Hoje já não sei se foram anos ou apenas um dia. Tanto tempo e continuas a mesma que um dia me fez pensar que afinal há outros mundos para além do nosso que corria atrás do tempo tentando por ele acertar o passo. Bem sei que apenas tinha visto os teus olhos mas para mim eras todo o mundo reunido na figura que eu vira cintilar na areia a nossa lua naquela noite em que me disseste que a ilha era demasiado pequena para os teus sonhos. Mas tu viste-me assim estático e ironica disseste que afinal já éramos dois a fuscar para a Pasárgada.
Estou no entanto em condições de garantir-te ser natural que eu tivesse ficado embriagado, porém não fusco. Um fusco não tem memória e eu lembro-me de tudo como se estivesse a acontecer neste momento: Bateste, eu abri a porta e por momentos não acreditei que os meus olhos te viam, decerto tinhas acabado de morrer em qualquer lado e o teu espírito vinha numa primeira visita. (p.314)